Três novas espécies de plantas foram descobertas em uma reserva florestal em Linhares, Espírito Santo, e foram descritas pela primeira vez na ciência. A descrição das espécies, que ganharam os nomes populares de Batinga melosa, Araçá cheiroso e Begonia rasteira, foi publicada nas revistas científicas Novon: A Journal for Botanical Nomenclature e Candollea: The Conservatory and Botanical Garden of the City of Geneva.
As novas plantas foram descobertas na Reserva Natural Vale, uma área de Mata Altântica de 23 mil hectares mantida pela empresa Vale para conservação e pesquisa científica. A reserva fica na Costa do Descobrimento, região formada por um mosaico de áreas protegidas na Mata Atlântica, no Espírito Santo e na Bahia, considerada patrimônio natural da humanidade pela Unesco.
ÉPOCA conversou com um dos responsáveis pela identificação de várias novas espécies na reserva, o coletor de plantas Geovane Siqueira. Ele faz a parte mais difícil do trabalho de encontrar novas espécies: entra na floresta, identifica as plantas, mede árvores e colhe amostras de flores e frutos. Siqueira começou a trabalhar na reserva em 2003. Desde então, já coletou e identificou mais de 1.500 espécies de plantas. Pelo menos seis delas, nunca haviam sido descritas pela ciência. Seis novas espécies que nós não saberíamos que existiam não fosse esse trabalho de campo.
O trabalho de Siqueira o levou aos bancos escolares – ele está no último ano de faculdade de biologia – e lhe rendeu uma honra rara: a de ser homenageado no nome de uma planta. Uma das espécies encotradas por ele foi descrita na ciência pela primeira vez em 2012 e batizada com o seu sobrenome: Alatococcus siqueirae.
Nas espécies descritas agora, Geovane contribuiu com a descoberta da Eugenia cataphyllea, conhecida como batinga melosa. É um arbusto que pode chegar a três metros de altura e, acredita-se, só existe no Espírito Santo. Também foram descritas a Eugenia hispidiflora, que se espalha entre o Espírito Santo e a Bahia, e aBegonia jaguarensis, uma erva terrestre de 16 centímetros do norte do Espírito Santo.
As descobertas são importantes porque mostram o quão pouco nós conhecemos da nossa própria biodiversidade. Afinal, as plantas foram encontradas na região onde os portugueses chegaram pela primeira vez no Brasil, em 1500. "É impressionante pensar que já se passaram 500 anos e ainda estamos encontrando coisas que ninguém coletou", diz Siqueira. Ele se orgulha da profissão que escolheu, mas lamenta que há tão poucos pesquisadores estudando as plantas brasileiras. "Nem todo mundo dá valor para as plantas. Mas elas são importantes para as florestas, para a água. E para a gente. Nós nos alimentamos de plantas, não é mesmo?"
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