Temos considerado o nosso planeta apenas como um recurso econômico, sem cuidar da delicada interação que há entre os sistemas que configuram nosso clima. A poluição já nos afeta diretamente e o aquecimento global é somente uma de suas facetas. O uso de combustíveis fósseis é o coração de nossa economia. Por esta razão, temos falhado na tarefa de reduzir as emissões de CO2 no planeta, mas, agora, quase como uma medida desesperada,está sendo analisada outra solução: a engenharia do clima.
A engenharia do clima surge como uma possibilidade para reduzir o impacto do aquecimento global e, ao mesmo tempo, continuar com os negócios como vínhamos fazendo até agora: consumindo mais combustíveis fósseis.
A solução rápida pode ser alterar o clima para evitar, por exemplo, o aquecimento de determinada região. São muitas as propostas para reduzir o aquecimento de uma área específica: instalar espelhos no espaço, colocar aerossol para refletir a luz do sol na atmosfera, aumentar a capacidade de reflexão da luz das nuvens, entre outras propostas. Esta solução parece viável, mas não contempla o delicado equilíbrio do clima.
São diversos os fatores que influenciam o clima. Inclusive, hoje, com toda a tecnologia disponível, os cientistas reconhecem que não têm todas as respostas quando se trata de previsão do clima. Por esta razão, a engenharia do clima é uma aposta arriscada, porque estaríamos modificando a estrutura de um enorme sistema que, na realidade, ainda não compreendemos totalmente.
As discussões sobre as possíveis aplicações da engenharia do clima já se iniciaram e é necessário identificar não só os benefícios imediatos, mas também os efeitos indiretos sobre o clima.
Uma das aplicações propostas é colocar partículas de aerossol para que reflitam a luz solar. Parece uma boa solução imediata para resolver o problema do aquecimento global, mas uma equipe de pesquisadores publicou na edição de 6 de agosto do 2009, na revista Sciencexpress, uma pesquisa que demonstra que as partículas de aerossol vertidas pela erupção do vulcão Pinatubo tiveram um impacto direto no nível de precipitações da região. Os pesquisadores concluem que, ao aplicarmos uma camada de aerossol para refletir a luz do sol, poderíamos alterar o fluxo normal de chuvas nos continentes, causando conflitos pelo acesso à água.
O professor Anders Leverman explica, em sua coluna no Huffingtonpost, que a técnica utilizada para refletir a luz do sol injetando partículas de aerossol na estratosfera não será eficaz. Leverman indica que os gases de efeito estufa afetam de maneira distinta cada região do planeta e, portanto, em um sistema interdependente, afetará de outro modo o sistema. Resumindo: não nos salvaremos do desastre.
Controlar o clima não é simples. Podemos tomar como exemplo a corrente do Golfo do México para observar como algumas mudanças em fatores que não têm a ver diretamente com o aquecimento global podem modificar a temperatura. No Polo Norte, o gelo está derretendo mais rápido, introduzindo mais água doce no oceano. Como consequência disso, há redução na salinidade desta região do oceano e o fluxo de água para as profundidades torna-se mais lento, reduzindo a velocidade de certas correntes internas e retardando a troca de água quente entre a região do norte da Europa e o Golfo do México. Com o tempo, a quantidade de água morna que chega ao norte da Europa será menor e a temperatura nesta região cairá drasticamente. Nos últimos anos, correntes de vento polar chegaram até a China sem encontrar resistência em seu caminho.
Levermann indica que devemos resolver o tema dos gases de efeito estufa e trabalhar para dar solução ao aquecimento global, reduzindo nosso consumo de combustíveis fósseis. “Refletir a luz do sol para o espaço pode esfriar o planeta, mas não ajudará a reverter os efeitos dos gases de efeito estufa, nem sequer de maneira remota”, indica em seu artigo.
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